terça-feira, 27 de julho de 2010

Regressiva

Respirou fundo. Agora vinha a parte desagradável. Parado, acompanhou com o olhar o cliente que saía fechar a porta do escritório atrás de si enquanto o ritmo do seu coração instabilizando no peito chamava sua atenção de forma irremediável para o sentimento que desatava a transbordar em suas veias. Quase conseguia enxergar o mundo entrando e saindo de foco acompanhando o pulsar do sangue através de seus próprios olhos. Ou seria só impressão? O tempo demora para passar quando nos sentimos inseguros - e de fato era o momento em que se sentia mais vulnerável e impotente, ao bater de frente com a ansiedade que brotava ao ler os nomes dos desconhecidos que ainda teria de entrevistar naquele resto de tarde para cumprir a agenda. O problema não era realizar o trabalho operacional de fazer perguntas e preencher os formulários. Mas a expectativa que antecedia o contato do seu mundo com o do outro, a incerteza do que entraria através daquela porta: quem de onde para onde com quais problemas querendo o quê, meu Deus, e para quê. Um sem-número de perguntas surgiam de modo incoordenado antes mesmo de ser possível formulá-las, e sabia que por trás de tudo isso existia algo mais profundo e mal resolvido. Falta de auto-confiança? Baixa auto-estima? Medo?
Após um longo suspiro, contou mentalmente quantos ainda faltavam ("Nove"). Se forçou a puxar o ar e, procurando soltar a voz da forma mais clara possível, exclamou:
- O próximo!

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