quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um amor que vale a pena

Há algum tempo eu estava sentindo como se cada dia consistisse em acordar e realizar as tarefas agendadas para ele. Em cumprir o que deveria ser feito nos momentos adequados, sina que invariavelmente se repetia no dia seguinte, no outro depois, e assim sucessivamente. Como se a vida fosse uma seqüência de dias incongruentes sem coesão, sem um sentido real. Além disso, meu limiar de tolerância com várias coisas estava dolorosamente baixo (meu ódio é alguma coisa com gosto de fogo a queimar em minhas vísceras). Pode-se culpar o inferno astral, ou o que seja, mas algo estava errado.
E sabendo que tinha mesmo algo errado fui para um retiro nesse último feriado, sem esperar muita coisa, mas o fato é que senti a presença de Deus, e foi bom. Fazia muito tempo desde que eu não me sentia eu mesmo, em paz, mas não estou escrevendo para divulgar uma forma nova de experimentar bem-estar.
Acho que entendi coisas sobre a vida cristã que eu nunca tinha compreendido, principalmente sobre o amor de Deus. Que Ele é amoroso, etc., eu sabia, mas, sério, caíram várias fichas.
Que não merecemos esse amor independentemente de se estamos buscando mais ou menos a santidade. Que Ele nos ama independentemente de quem somos e do que fazemos. Entendi que damos mesmo mancadas com Deus, e Ele continua nos amando apesar disso. E todas as coisas que nos irritam e magoam nas pessoas que nos cercam e achamos difíceis de amar, o praticamos de forma análoga, geralmente sem saber, contra Ele.
E vendo esse amor tão grande, pude vislumbrar por que raios existem pessoas que abrem mão de levar uma vida segundo os padrões 'normais' do mundo para, por exemplo, ir pregar para índios no meio do nada; por que por causa dEle ocorrem transformações reais e profundas em vidas, ou ainda a tal da alegria que pode existir em qualquer circunstância. Se Deus nos ama tanto assim e nos perdoa nossas mancadas a ponto de mandar seu filho para pagar por nossos erros, recebendo esse amor não seremos capazes de, por nossa vez, amar genuínamente?
Já fui em outros eventos em que voltei me sentindo bem e firme na fé, mas sinto que desta vez foi diferente: acredito que o que experimentei mudou alguma coisa em minha forma de ver a vida, e estou convencido de que esse amor é uma verdade essencial para as pessoas. O tempo vai dizer, né, se vou voltar a sentir que as coisas não têm sentido nenhum e aquele ódio bizarro me consumindo, mas, cara - algo mudou.
Freqüentemente tenho a impressão de que tudo o que sentimos descobrir na vida cristã a gente de certa forma já sabia - como se não fosse exatamente uma novidade, mas que quando vivenciado se revestisse de um significado especial.
Senhores, estou convencido: o cristianismo que não é embasado nessa relação de amor entre o homem e Jesus pode ser uma doutrina, uma forma de encontrar uma comunidade à qual pertencer, de fuga, de minimizar a tristeza, de ganhar dinheiro, de controle social ou o que seja, mas definitivamente não é a vida que Deus preparou para nós.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Jogo de sombras

Com a falta de luz ontem à noite a cidade ficou toda escura, com exceção das janelas pontualmente iluminadas por velas incandescentes e das vias nas quais eram jogadas a luz dos carros, que se deslocavam projetando gigantescas sombras usando os prédios como anteparo. Confesso que fiquei impressionado com o tamanho dessas sombras que no dia-a-dia passam despercebidas, escondidas pela iluminação onipresente.

Normalmente não paramos para pensar nas coisas das quais nossa vida como a conhecemos depende: do alimento que chega às gôndolas, da água encanada, da eletricidade. Tudo isso acaba parecendo natural: embora eu devesse, não faz parte de minha rotina torcer para que a estação das chuvas seja favorável às colheitas. Mas a cada vez em que, seja pela falta de luz, por um recesso forçado devido a uma epidemia ou por eventos similares, somos forçados a rever e a mudar nossos planos, pelo menos para mim cai (ou ameaça cair) a ficha de que essa vidinha tranquila depende de bem mais do que conseguir fazer meu trabalho e tarefas de forma eficiente e completa: existe mesmo uma série de aspectos totalmente fora de nosso controle. De certa forma, são as sombras que a luz do cotidiano escondeu.