quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Muito pouco ou quase nada"

De dentro do ônibus que sacolejava olhou de esguelha para o céu azul com nuvens fofas, sem conseguir depreender se iria ou não chover. Não tinha nenhum outro compromisso em especial que justificasse uma falta ao piquenique para o qual se dirigia. "Hum, mas sujeitinho antipático ele deve ser. Quem não gosta de um piquenique?", você pode pensar - mas este era um desses dias em que, se ele não sentisse que era sua obrigação ir, mostrar a cara e cumprimentar alguns velhos conhecidos, ficaria contente em se trancar em casa sem saber qual a cara do céu. Não que fosse sempre assim.
Passou o resto da viagem olhando pela janela sem realmente ver, ruminando se seria melhor se ele não sentisse culpa, porque então não se sentiria impelido a cumprir obrigações sociais frívolas. Se estas, por sua vez, não existissem, as pessoas poderiam fazer o que realmente gostariam e o mundo seria um lugar melhor. Por um momento, encarou seu reflexo no vidro da janela, que o olhava de volta com cara de acelga, e viu estampado em seu olhar: a reunião vai ser inútil e, sem dúvida, acrescentará muito pouco ou quase nada à sua vida.

No resto da tarde o tempo foi agradável e o grupo encontrou um bom lugar à sombra para ficar. Passaram o tempo sem seguir nenhuma programação específica, jogando conversa fora e falando sobre coisas que, em grande parte, não eram surpresa para ninguém. Papo furado, comes e bebes, algumas risadas. Como esperado.

Mas o fato é que, no trajeto de volta ele se pegou pensando: embora não tivesse aprendido grandes coisas nem atingido metas pré estabelecidas, a tarde havia valido a pena. Ele se sentia mais leve agora, e algumas pessoas sorriram quando passou por elas na rua.

Um comentário:

  1. Cara de acelga soa engraçado pra mim =)
    (estou tomando a liberdade de comentar...)

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